domingo, 23 de novembro de 2014

Viver e aprender

Haverá em nossa vida algum momento que seremos acometidos por uma enorme sensação de inutilidade, de vazio mesmo.
Questionamos o porquê de tantas adversidades e nada parece fazer sentido. Natural que concentremos nossa atenção no lado mais cruel da vida, aquele que é implacável e a todos afeta indistintamente.
Começamos a vida com perdas e nela continuamos.
Ao nascer perdemos o aconchego, a segurança e a proteção do útero, a partir daí já estamos sozinhos.
Paradoxalmente, no momento em que perdemos alguma coisa outras nos surgem.
Ao perdermos o aconchego do útero, ganhamos os braços do mundo. Ele nos acolhe, nos encanta e nos assusta, nos eleva e nos destrói.
E continuamos a perder e seguimos a ganhar.
Perdemos a inocência da infância, a confiança absoluta do colo materno, a mão que segura nossa mão quando aprendemos a andar e por aí vai...
E com todas as perdas vamos aos poucos construindo a nossa maturidade, e a capacidade de questionar. E com sabedoria, desses questionamentos podemos descobrir o que há de melhor por trás de cada situação.
Ao longo do caminho, abrimos portas para novas possibilidades e fechamos janelas irremediavelmente deixadas para trás. E é bom que as deixemos mesmo.
Estamos crescendo...
Vamos perdendo alguns direitos e conquistando outros.
Perdemos o direito de poder chorar bem alto, aos gritos mesmo, quando alguma coisa não acontece como queríamos ou quando nos machucamos.
Perdemos o direito de dizer absolutamente tudo que nos passa pela cabeça sem medo de causar melindres.
Receamos dar risadas escandalosamente altas, fazer alguma estripulia já não é mais permitido.
Estamos crescidos, nos ensinam que não devemos ser tão sinceros, e vamos vendo que a realidade dos adultos não se parece em nada com as fantasias de criança.
E aprendemos muito...
Vivemos em constante conflito.
O mundo todo nos parece contrário aos nossos sonhos...
Ah... Os sonhos...
São muitos os sonhos. Sonhamos dormindo ou acordados, sonhamos o tempo todo.
Mas nada é como sonhamos quando éramos criança.
Estamos amadurecendo...
Perdemos a espontaneidade e a pureza no olhar, o coração fica cada vez mais frio. Passamos a utilizar a razão acima de tudo.
E continuamos amadurecendo...
Conquistamos nossa liberdade, um carro novo, um companheiro, novos amigos, um diploma.
E lamentavelmente perdemos o direito de gargalhar, de andar descalço, tomar banho de chuva, lamber os dedos e chorar onde e quando der vontade.
Já não abraçamos mais e damos aquele beijo estalado sem nenhum receio de sermos julgados.
É assim a vida, vamos ganhando aqui, perdendo ali... enquanto amadurecemos...
De repente, percebemos que ganhamos algumas rugas, algumas dores nas costas, algumas celulites, estrias, peso, cabelos brancos...
Nos damos conta que perdemos também o brilho no olhar, esquecemos de sorrir constantemente...
Estamos envelhecendo...
Não podemos deixar pra fazer algo quando estivermos morrendo, não haverá mesmo outra vida além dessa. Não podemos deixar de dar o perdão a quem nos feriu e também o perdão a nós mesmos, não podemos adiar mais aquele 'eu te amo' dito com o coração.
Compreender que as perdas fazem parte, que o sol continua brilhando e que chove de vez em quando, e que é bom que chova mesmo pra florescer, compreender os ciclos que a vida tem é sinal de maturidade.
Que possamos crescer sabendo equilibrar as responsabilidades da vida adulta com a leveza de uma criança que sabe brincar.
Que tenhamos juízo, mas que possamos manter sempre o bom humor.
Que a gente nunca perca a ousadia em acreditar, mesmo que algo pareça impossível.
Que nunca deixemos de sonhar e lutar pelos nossos sonhos.
Que quando dissermos eu te amo, possamos ser coerentes com o modo de agir, para que aqueles a quem amamos sintam-se amados, mais do que saibam-se amados.
E que nunca deixemos morrer nossa imensa vontade de viver e aprender...

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